Só podia ser a Marisa Monte para expressar os sintomas da minha saudade. Para escutar a canção, clique aqui.

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Lina Donnard CanadaAntes de continuar a contar minha história de imigração, ou melhor, minhas várias histórias, preciso falar de saudade. Não dá para continuar escrevendo sem, antes, falar desse sentimento que começou a fazer parte do meu projeto de imigração meses antes de eu embarcar. Eu já sou, naturalmente, uma pessoa nostálgica. Tive uma infância incrível com pais, avós, primos e tios maravilhosos e, por mais que eu já estivesse adulta, me afastar fisicamente de pessoas que eu amava tanto me dava uma saudade tremenda. Bem antes de embarcar meu pai me dizia “Já estou morrendo de saudades de você loura”. Na época, minha mãe já morava na Espanha há três anos e, de certa forma, eu sabia o tipo de saudade que me esperava. Minha melhor amiga, a Gabi, também me dizia a mesma coisa, chorando…. e chorávamos juntas. Ela me dizia “Li, vou sentir uma falta das nossas conversas ao vivo, de você vir aqui em casa, de irmos fazer compras juntas e tudo o mais que fazemos juntas… “ E eu dizia “Bi, eu também… mas olha, nada é definitivo. Quem sabe eu volto para o Brasil daqui um tempo. Eu acho que eu vou acabar voltando”. Mal sabia eu que duas semanas depois de estar em Montreal teria uma convicção profunda de que havia encontrado o meu lugar e que, dificilmente, voltaria a morar no Brasil.

O primeiro ano no Canadá foi foda. No meu primeiro apartamento, nos primeiros dois meses, eu tinha apenas um colchão no quarto. Me lembro que as horas das refeições eram as mais difíceis, pois estava acostumada a sempre ter companhia de pessoas que eu adorava, inclusive no trabalho. De repente, me vejo comendo sozinha no chão da cozinha, vendo a neve caindo da janela e chorando igual a uma criança. Era bom estar assentada no chão, pois do chão não passa! A saudade era tanta que eu sentia fisicamente. E, nessa situação, eu me perguntei “Será que algum dia eu vou contar isso rindo? Será que algum dia a saudade vai doer menos?”. Porque eu sabia e sei que nunca vai passar. Se você ama pessoas, você vai sentir saudade. Mas calma, não quero te deixar angustiado(a). Há esperança e nem tudo é só sofrimento.

Cada pessoa reage de uma forma e cada pessoa tem um tipo de relação com sua família. Estou compartilhando a minha experiência mas, pelas várias conversas que já tive com brasileiros, vejo que o sentimento é comum. O que acontece é que, com o tempo, a alma vai amadurecendo. A medida que você vai se encontrando no seu novo país, se realizando e conhecendo outras pessoas que acabam se tornando sua família canadense, o coração vai acalmando. É claro que a nossa família e nossos amigos de infância são insubstituíveis, mas também existem outras pessoas maravilhosas nesse mundo que irão encher seu coração de amor e alegria. Acredite.

E olha, vou te dizer uma coisa, depois que você imigra e que você ama o seu novo país, o que definitivamente é o meu caso com o Canadá (e com Montreal), você estará fudido pro resto da vida! Hahahaha Te explico. Se você não aguentar e resolver voltar para o Brasil, em geral, sabe o que acontece? Você morre de saudade da sua vida no Canadá! Toda vez que eu vou para o Brasil é maravilhoso, mas eu fico louca para voltar para casa. Sim, porque agora minha casa é Montreal. Aqui também tenho pessoas que eu amo incondicionalmente e incomensuravelmente. Pessoas que, assim como meus amados do Brasil, preenchem minha alma com amor e alegria. Aí, você me pergunta “Lina, então como é que você faz para aguentar essa constante saudade?” Gente, eu bebo vinho tinto! Hahahaha Falando sério, eu aprendi a viver cada momento com intensidade e o coração grato. Esteja emocionalmente presente em cada momento que a vida te proporcionar.

Eu fiz esse mosaico para o vídeo de promoção do meu site onde eu conto um pouquinho da minha história. Para assistir clique no link http://tinyurl.com/pwyw78s

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Quando vou ao Brasil, valorizo demais cada momento que passo com as pessoas que amo. Muitas vezes as pessoas nem vão reparar, mas enquanto estou com elas, dentro de mim estou dizendo “Obrigada Deus pelo privilégio de estar com meu pai, minha mãe, minha família, meus amigos, tomando sol e comendo pão de queijo.” Ter sentido uma saudade profunda me fez valorizar mais as pessoas que amo. Mesmo que o tempo seja curto, ele é de qualidade. Minha alma está presente 100% pois não sei quando irei encontrar aquela pessoa de novo. Nada de celular gente! Nada de ficar passando o feed de notícias do Facebook sendo que existe uma pessoa na sua frente! Pelo amor de Deus!

Como tudo na vida, sentir dor de saudade é muito positivo, porque vai te fazer enxergar o quão maravilhosas são as pessoas que estão ao seu redor. E se houver pessoas que te fazem mal e que você acha que não consegue viver sem elas, se dará conta de que consegue sim! Seu discernimento aumentará, porque você vai dar muito valor ao seu tempo e não vai querer perdê-lo com quem não vale à pena. Viu como, em tudo na vida, existe um lado positivo?

Portanto, quando imigrar, fudeu minha gente. Se ficar vai sentir saudade. Se voltar para a terra natal, também vai sentir saudade. Mas fato é: você nunca mais verá o tempo e as pessoas que você ama da mesma forma. Você aproveitará cada momento e cada pessoa com muito mais amor e intensidade. Eu adoro amar com intensidade, de fato e de verdade, e por isso digo “Deus, muito obrigada por cada pessoa que faz parte da minha vida, pelo sol e pelo pão de queijo”.

#vemserfelizemmontreal   #carpediem

Lina Donnard é brasileira, de Belo Horizonte, imigrante e mora em Montreal desde 2009. É consultora em educação no Canadá e coach profissional para integração ao mercado de trabalho.