Photo by Marco Diniz

Photo by Marco Diniz

É com essa frase simples e sem qualquer pretensão que eu defino o início da minha jornada de imigração rumo à Montreal, no Canadá. A idéia de imigrar surgiu em 2005, quando eu ainda estava cursando a graduação em Relações Internacionais em Belo Horizonte.
Na época eu não conhecia ninguém no país e nunca tinha morado fora ou sequer visto neve. Até que, em 2008, dei entrada no processo de imigração do Québec, fui selecionada para fazer a entrevista em São Paulo e passei! Nunca vou me esquecer da imensa alegria de saber que uma nova fase se iniciava em minha vida e da imensa tristeza de saber que, em breve, eu estaria longe da minha família e dos meus amigos. “Mixed emotions”…. essa expressão em inglês define bem o que senti.

Peguei o avião para Montreal no dia 5 de novembro de 2009. Sem data de volta e isso também me assustava. Me lembro que duas semanas antes de partir estava cozinhando em casa e meu pai, notando que eu estava profundamente angustiada, me perguntou “O que foi filha?”. Minha resposta foi um choro descomunal, nem conseguia falar. Até que depois do abraço paterno e reconfortante eu disse “Pai, será que vai dar certo? Será que vou conseguir ser forte o bastante para encarar a vida sozinha? Será que vou me adaptar? Me integrar ao mercado de trabalho? Fazer amigos? E você pai? Sinto como se estivesse te abandonando, como se estivesse fazendo uma escolha egoísta. Quem vai cuidar de você?”. E meu pai, em sua infinita sabedoria paterna, me disse “Filha, eu só vou ficar triste se você não tentar. Esse é o seu sonho e já imaginou o tamanho da sua frustração quando chegar aos 40 e nem tiver tentado? Está na hora de você cortar o cordão umbilical e voar como uma borboleta e, se não der certo, volte para casa! Você voltará com a alma rica em experiências, vai ter melhorado os idiomas e, com certeza, mais madura do que antes. Você só tem à ganhar. E quanto à mim não se preocupe; já estou grandinho o suficiente!”. Suas palavras foram libertadoras! Era tudo o que eu precisava ouvir! É claro que os dias seguintes foram duros. Toda a família e amigos se despedindo de mim. Recebi tanto amor que já nem queria partir. Chorei até não poder mais, sorri até não poder mais e fiz minhas duas malas.

O dia da partida chegou! No aeroporto eu mal conseguia olhar nos olhos dos meus familiares. Me despedi do meu pai, dizendo que o amava e que daria o melhor de mim para alcançar meus sonhos. Prometi que iria cuidar de mim, que iria comer direito e tomar vitamina C. Ali sabia que eu nunca mais seria a mesma. Era uma ida sem volta pois, mesmo que um dia eu voltasse para o Brasil, seria uma outra Lina. Passando pelo raio x um senhor me pergunta “Por que você está chorando tanto? Alguém da sua família morreu”?, eu respondi “Não, estou indo morar no Canadá”. E o senhor sem entender perguntou mais uma vez “Mas você está sendo obrigada à ir morar no Canadá?”, e mais uma vez olhando para aquele senhor disse “Não, vou porque quero. Sempre foi meu sonho morar em outro país”. Aquele senhor deve ter me achado meio doida e acabou desistindo de fazer perguntas.

Entrei no avião lotado, mas na minha fileira havia uma cadeira vazia entre eu e o outro passageiro. Permaneci olhando para a janela, pedindo forças à Deus e que Ele cuidasse de mim, uma vez que meu coração estava muito contrito. Foi então que o passageiro ao meu lado perguntou meu nome. Eu respondi e começamos a conversar. Vi que ele tinha um sotaque e perguntei de onde vinha e o que estava fazendo em Belo Horizonte, e ele respondeu “Sou americano e faço trabalhos sociais em favelas em BH” e estendendo as mãos ele me disse “Lina, eu vi que você está chorando. Não sei o que está acontecendo, mas posso fazer uma oração por você?”. Que momento incrível! A presença daquele homem confortou meu coração e me deu muita paz.

6 de novembro de 2009 chego em Montréal e muito curiosa sobre como seria o meu futuro. Quem será que eu iria conhecer? Onde eu iria morar? Onde eu iria trabalhar? Onde faria o meu mestrado? Será que eu ia conseguir alcançar meus objetivos? Hoje tenho respostas para todas essas perguntas, e conto toda essa história rindo! Mesmo a parte onde choro copiosamente!

E sabe por que eu contei um pouquinho da minha história de imigração? Para que você saiba que eu também senti medo, tive dúvidas, enfrentei muitas situações difíceis, tive momentos de solidão, chorei e me perguntei se era isso mesmo. Para você saber que há pessoas especiais em todos os lugares da Terra e que se você for de coração aberto as coisas fluem. Para te encorajar a realizar seus sonhos e encarar seus monstros! Para você saber que imigrar é difícil sim, é escalar um Monte Everest, mas que você só tem que dar um passo de cada vez. Contei essa história para você se sentir encorajado pois se eu que sou loira consegui, você também consegue! Que me perdoem as loiras pela brincadeira! Para você saber que o verbo que mais rima com imigrar é chorar, e que chorar é bom. Lava a alma!

Hoje eu digo sem hesitação que vir morar em Montreal, no Canadá, foi a melhor escolha que fiz. Tenho mais mil histórias incríveis para contar sobre minha vida aqui no Canadá, mas essas são cenas do próximo capítulo! Au revoir!

#vemserfelizemmontreal

Lina Donnard é brasileira, de Belo Horizonte, imigrante e mora em Montreal desde 2009. É consultora em educação no Canadá e coach profissional para integração ao mercado de trabalho.