Cada artigo que escrevo possui sua canção.  Escolhi “Preciso Me Encontrar” do Cartola, interpretada pelo Zeca Pagodinho e Marisa Monte. Clique aqui para escutar!

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No meu primeiro mês em Montreal, conheci um quebequense que se tornaria um dos meus melhores amigos e que seria um anjo na minha vida. Na segunda semana em Montreal, em meio às lutas (se você ainda não leu, leia os artigos anteriores para entender a história), vou almoçar sozinha em um restaurante na avenida Saint-Laurent, no bairro Plateau Mont-Royal, e quem me serve é um garçom que, além de lindo, era simpático e educado. E não, eu nunca tive nada com ele e sempre fomos apenas amigos (para os curiosos de plantão!). Estava me sentindo desanimada e o sorriso do Adam foi um sol! Aonde eu vou eu sempre gosto de conversar com as pessoas e assim foi com o Adam. Quando fui pagar a conta, disse pra ele “Eu sou brasileira e acabei de chegar em Montreal como imigrante. Obrigada por ter me atendido tão bem”.

Adam Natal

Foi muito bom receber um sorriso nesse momento. Ele perguntou o meu nome e disse “Lina, foi um prazer te servir. Também foi muito bom receber seu sorriso de volta.” Fui embora e pensei “Que burra! Devia ter pedido o telefone dele! Então o que eu fiz? Tomei coragem e voltei no mesmo restaurante no dia seguinte. Pensei “Claro que ele vai achar que eu o estou paquerando, mas quer saber? Foda-se. Quero fazer amigos quebequenses e ele parece ser muito legal.” E sim, às vezes eu falo uns palavrões. Espero que ninguém fique chocado com o meu “foda-se”, pois não sou politicamente correta.

Entro no restaurante e lá estava o Adam e a mesma equipe do dia anterior. É claro que todos se olharam com um sorriso no rosto e olharam para o Adam apontando com a cabeça para que ele fosse me atender. E é claro que por mais que eu fosse extrovertida, fiquei bastante tímida com aquela situação. Então disse para o Adam “Voltei porque adorei a comida e o serviço, mas o motivo principal é porque queria te fazer uma pergunta e talvez você me ache meio doida (e mais uma vez pensei “foda-se” hahaha). Você quer ser meu amigo? Eu acabei de chegar em Montreal e quero muito fazer amigos quebequenses”. E para a minha alegria ele disse “Eu adoraria Lina. Ainda não tenho amigos brasileiros e sou bastante curioso com relação ao Brasil.” Combinamos que ele me ligaria no dia seguinte.

E mais uma situação completamente inusitada acontece comigo. Lei de Murphy! No dia seguinte, um tarado liga no meu celular. É isso mesmo. Ele ligou umas duas vezes e as duas vezes eu desliguei o telefone. Na terceira vez que o telefone toca, eu já atendo furiosa xingando em francês “Escuta aqui seu doido, para de me ligar! Eu vou chamar a polícia para você!! Não me liga nunca mais!!!” E do outro lado da linha “Oi Lina, é o Adam. Tudo bem?” Noooosssaaaa…. quase morri de vergonha e pensei “Já era… antes mesmo de tentar ser amiga ferrei com tudo…” Expliquei para ele e rimos juntos da situação.

O Adam também é músico e me chamava para os ensaios da banda dele, apresentações e festas com os amigos. Foi muito bacana poder conhecer mais sobre a música francófona através dele. Ele também sempre me ligava para saber como eu estava. Como a amizade dele foi importante! Sobretudo porque eu estava morando sozinha no meu novo apartamento e, confesso, não era fácil. Para economizar, eu comprei apenas uma cama e alguns utensílios de cozinha e, por isso, o apartamento estava vazio. Lembro que comia assentada no chão, vendo a neve cair através da janela e chorando de saudade da minha família. Digo isso sem nenhuma auto-piedade viu gente? Auto-piedade está por fora! Não caia nessa cilada!

No vídeo abaixo eu mostro meu primeiro apartamento. Sem comentários! Sabe o que mais me surpreende quando vejo esse vídeo? É observar o quanto mudei! Meu sotaque de mineira estava fortíssimo! hahaha 

E por mais que estivesse conhecendo muitas pessoas, eu ficava muito tempo sozinha também. Não tem jeito. É assim quando imigramos. Eu me lembro de sair sozinha para andar nas ruas, sentir os cheiros, observar a arquitetura, entender os costumes e falar com as pessoas. Rapidamente me senti à vontade, pois fui muito bem acolhida pelas pessoas que eu conheci. Me lembro de ligar para o meu pai e dizer “Pai, me encontrei nessa cidade. Tenho chorado, mas também tenho sorrido, pois sinto explosões de alegria por estar aqui. Acho que não volto mais para o Brasil”.

Emocionalmente era uma montanha russa. Tinha dia que eu chorava horrores de saudade do Brasil e, outros, eu explodia de alegria.

Natal 2009

O Natal foi um desses momentos de alegria absoluta. Eu não sabia, mas passaria o melhor Natal da minha vida com uma família que nem sequer me conhecia, a família do Adam e do seu melhor amigo Simon. Comemos, bebemos, cantamos, dançamos e rimos muito. O que mais me marcou foi o amor com o qual essa família quebequense “da gema” me tratou. Me senti em casa. Não, melhor, me senti em outra dimensão! Melhor do que mil palavras, te convido à assistir os dois vídeos abaixo desse Natal tão especial.

 

Que lindeza o Adam cantando! 

E o Simon então? Ele cantou Cat Stevens e eu pirei! Quase que eu estrago o vídeo gente…. hahaha ridículo eu cantando, mas eu não podia deixar de mostrar esse vídeo para vocês. 

A cada encontro humano que eu tinha, mais se fortalecia em mim a convicção de que era aquela a vida que eu queria para mim. Uma vida que me traria uma riqueza de alma e experiências transformadoras. Mais do que nunca, aprendi que existem pessoas especiais e carinhosas em todas as culturas. Aprendi que quando deixamos nossos preconceitos de lado, vivemos a plenitude da existência! Quando imigrar, faça-o de coração aberto, com o pensamento positivo e emanando amor, pois o amor atrai!

Sempre conversava com meus pais eles diziam “Fulano perguntou sobre você. Beltrano quer saber como você está.” E eu dizia “Se alguém por mim perguntar, diga que eu só vou voltar quando eu me encontrar.” 😉

#vemserfelizemmontreal

 

Lina Donnard é brasileira, de Belo Horizonte, imigrante e mora em Montreal desde 2009. É consultora em educação no Canadá e coach profissional para integração ao mercado de trabalho.