Clique aqui para descobrir a canção deste artigo. Espero que gostem! Eu sou old-fashioned pessoal!

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Photo by Marco Diniz

Photo by Marco Diniz

Meu terceiro mês em Montreal foi em janeiro de 2010. Passei o réveillon com amigos e me lembro que fui para a festa me sentindo meio fraca e começando a gripar. Eu tinha ouvido falar que todo mundo que chegava no Canadá ficava doente nos primeiros meses. Uma espécie de “batismo” com os vírus locais, sobretudo que era inverno e meu corpo nunca tinha experimentado um frio igual. Até hoje me pergunto como os esquimós aguentam! E antigamente que não existia toda a tecnologia que temos hoje? E sem vinho? Não sou baiana não, mas “oxente”! Porque só bebendo pra esquentar… Como se diz na Bahia “um frio da porra!”.

1 de janeiro acordo passando um mal… Pior sinusite da minha vida. Estava tão fraca que mal conseguia levantar da cama. Precisava disso tudo minha gente? Ficar doente sozinha é foda! No dia anterior eu havia preparado uma panela enorme de macarrão. Calculei errado a quantidade e pensei “Nunca vou comer isso tudo e vou acabar jogando fora”. Pois foi justamente esse macarrão que me salvou os primeiros dias. Agradeci à Deus com toda a força do meu coração. Me pergunta se eu acredito em coincidência? Até o macarrão que eu tinha feito à mais tinha um propósito. Quando imigramos tudo toma outro significado.

Graças à Deus escutei meu pai e tinha levado antibióticos. Fica a dica: quando viajar, leve antibióticos e medicamentos que você costuma tomar! Caso contrário, eu teria que esperar horas no hospital para pegar uma receita médica e poder comprar antibióticos em uma farmácia. Isso aconteceu comigo há pouco tempo atrás e até fiz um vídeo onde eu saio do hospital às três da madrugada. Assista o vídeo abaixo!

E, claro, chorei. Lá estava eu de novo chorando e pensando “Meu Deus, eu ainda vou contar isso tudo rindo!”. Desta vez, pelo menos, podia tomar banho em um banheiro com azulejos limpos! Hahaha (essa história eu conto no meu segundo artigo). Fiquei uma semana de cama e eu, que sou super animada, ficar uma semana de repouso foi duro emocionalmente. E logo começar o ano assim? No início da imigração já ficamos naturalmente mais vulneráveis. Quando estamos sozinhos, doentes, no inverno glacial e em outra cultura; pode saber, vai doer na alma. É assim. Tem que encarar!

Alguns amigos me visitaram, gente que nem me conhecia direito. Lembro que um amigo peruano, o Julio, foi me visitar. Como um latino legítimo que era, levou coisinhas gostosas para eu comer. Como aquela visita foi importante! Como um pouco de carinho faz diferença! E mais: como é bom conversar com alguém que passou pela mesma situação. Conforta o coração da gente não é? O Julio também tinha imigrado sozinho e entendia bem o que eu estava passando. Minhas amigas Julia, Paty e meu amigo Adam também me visitaram. Fica registrado aqui o meu agradecimento aos quatro!

Nessa semana que fiquei em casa sozinha, mergulhei nos meus pensamentos. Sou, naturalmente, uma pessoa reflexiva e gosto de filosofar sobre a vida. Tenho à quem puxar! Percebi o quão frágil nós somos, ainda mais quando estamos em uma terra estranha. Percebi que eu teria que estar muito vigilante para manter meu equilíbrio emocional. Também entendi o tamanho da minha luta: meu campo de batalha era a minha mente. Me bateu uma saudade tremenda de casa e isso me deixou bastante melancólica. Também sentia saudade do meu quarto. Acho que é porque representava meu lugar de segurança, minha zona de conforto. Comecei à projetar minha vida e pensava “Se for pra ficar doente sozinha eu não quero! Como vou fazer da próxima vez? E se eu tiver algo mais sério?” À cada projeção do futuro que eu fazia mais eu chorava! Hahaha (veja que hoje eu estou contando isso rindo!).

E, olhando pra dentro, vi que eu tinha MUITO pra amadurecer. Eu era uma menina! Sonhadora, sensível e em muitos aspectos ingênua. O tempo me moldaria. No Canadá eu me tornaria a mulher que sempre sonhei mas, antes, ainda viriam muitas histórias. Ainda tinha muito sorriso e muita lágrima pela frente. E sabe de uma coisa? Hoje, depois de seis anos, olhando para trás penso “Se vivi tudo o que vivi para, além de amadurecer, poder compartilhar minhas experiências com outras pessoas, então sou infinitamente grata à Deus por este privilégio! Se eu puder inspirar uma pessoa que seja já me sinto honrada, pois por uma pessoa já vale à pena”.

Obs: É claro que muitas outras situações aconteceram nesse período: saí muito, dancei, patinei, conheci pessoas, fiz curso do governo para integração ao mercado de trabalho, tirei documentos, francisação e muito mais. Só que tenho que selecionar as situações para não cansar você, leitor! Beijos!

Lina Donnard é brasileira, de Belo Horizonte, imigrante e mora em Montreal desde 2009. É consultora em educação no Canadá e coach profissional para integração ao mercado de trabalho.