Clique aqui para descobrir a canção desse posting. Fui no show dessa banda em 2015 em Montreal e eles são demais! Sempre engajados em levar a sociedade a uma consciência mais elevada no amor.

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Depois de falar de saudade no meu artigo anterior (clique aqui para ler), agora posso continuar a contar minha história no Canadá! A minha primeira experiência profissional chegou a mim inusitadamente. Eu não busquei, ela de fato aconteceu de uma forma maravilhosamente inesperada e me traria frutos que eu nem poderia imaginar. Como tudo na vida, essa experiência foi uma sementinha que virou uma árvore grande cheia de frutos. Você deve estar pensando “Então para de enrolar e conta logo Lina!”.

Photo by Marco Diniz

Photo by Marco Diniz

Em dezembro de 2009, um mês depois de ter chegado em Montreal, fui ao escritório do governo do Québec para fazer a equivalência do meu diploma de graduação no Brasil. Chamam o meu número e, conversando com a senhora que estava me atendendo, percebi o seu sotaque e perguntei “A senhora é peruana, não é?” e ela respondeu “Sim, sou!”. E eu toda feliz disse “Entonces vamos a hablar en español!”. Ela, surpresa, me perguntou “Como você sabe que eu sou peruana?”. Então expliquei para ela que eu tinha visitado o Peru a trabalho e que tinha amado o país, as pessoas e disse “Sou latina com muito orgulho! Nosso continente é maravilhoso!”.

Ela, curiosa, me perguntou “Lina, estou vendo que você é graduada em Relações Internacionais. Me conte mais sobre você. Faz quanto tempo que vive em Montreal? Você trabalha aqui?”. Mal sabia ela que eu ainda estava aprendendo tudo e não fazia nem ideia de como ia conseguir um emprego. Contei um pouco da minha história e, no final, para minha surpresa ela disse “Lina, eu quero te ajudar. Minha filha é diretora de Comunicações do LaSalle College (o maior do Canadá) e faz parte da Câmara de Comercio Latino-Americana do Québec (CCLAQ). Vou pedir para ela te ligar e te ajudar, pois vocês estão em áreas parecidas.” É claro que eu pirei!

No dia seguinte a Fernanda (nome fictício para preservar a confidencialidade) me liga para me conhecer melhor e, ao final da conversa, ela me diz “Lina, vem ao meu escritório aqui no LaSalle. Quero fazer uma entrevista com você.” Me preparei o máximo que pude e fui para a entrevista. Eu estava muito interessada em trabalhar na CCLAQ, mas ela me explicou que a câmara era formada apenas por voluntários e que, na verdade, ela gostaria que eu fizesse um estágio não-remunerado no college para trabalhar em um projeto de promoção e recrutamento de estudantes internacionais. Pergunta se eu hesitei? Topei na hora!

Entrei como voluntária na CCLAQ, onde permaneci por quatro anos, realizei projetos e construí uma rede de contatos incrível. Depois conto mais sobre essa experiência, mas se não aguentar de curiosidade, tem tudo lá no meu LinkedIn.

O estágio? Fiz em fevereiro de 2010. Não ganhei nenhuma remuneração, mas ganhei algo mais valioso para uma imigrante recém chegada no Canadá: confiança! Ao conversar com colegas, trocar experiências e participar de reuniões, vi o quão competentes nós brasileiros somos. Nós sabemos como nos virar, estamos acostumados à trabalhar sob pressão e somos dinâmicos. Vi que eu não tinha que ficar insegura apesar de ainda não conhecer nada do mercado de trabalho canadense porque, convenhamos, no início é difícil pra caramba. É uma bobagem achar que os norte-americanos ou os europeus são melhores que nós. Gente, nós somos foda! Eu tive a oportunidade de viajar um bocado pela América Latina à trabalho e, algo que me incomoda, é ver a autoestima coletiva baixa. Temos que mudar isso! (tinha que fazer essa observação, mas esse é um tema para um outro artigo).

Durante o estágio conheci pessoas de diferentes países e tive dois colegas muito queridos que me adotaram: uma venezuelana e um italiano. Como era bom poder falar tantos idiomas no mesmo dia! Como era bom trocar experiências com outros imigrantes que já tinham passado pelo o que eu estava passando e me diziam “Lina, um dia de cada vez e, em breve, você estará integrada. Fica firme!”. Era tão reconfortante! Realmente nada é mais precioso nessa vida do que as pessoas e as relações que cativamos.

Dei a minha excelência. Fazia muito mais do que me pediam. Criei documentos para elaborar o marketing estratégico no Brasil, escrevi um estudo de mercado, criei uma lista de contatos, colaborei em reuniões e muito mais. Mandei tudo por e-mail para a Fernanda e para o CEO do LaSalle pois é claro, eu queria que ele soubesse que eu existia. Dica para você que quer crescer na sua carreira: por mais que você seja um profissional incrível, nada vai acontecer se ninguém souber que você existe. Por isso, saia do casulo! Bote à sua cara à tapa! Arrisque-se! Encare o medo de se expor!

É claro que eu tinha a esperança de ser contratada. Ao final do estágio, a Fernanda me diz que não seria possível me contratar pois eles não possuíam verba para tal. Fiquei arrasada e pensei “Caramba… vou ter que procurar um emprego… Ah nem…”. Ela me deu essa notícia na quinta e combinamos que eu continuaria trabalhando em tempo parcial para dar continuidade ao projeto que eu havia iniciado. Eu tinha feito vários contatos no Brasil e queria continuar no LaSalle até conseguir um emprego pois, assim, eu continuaria ativa ao invés de ficar em casa. Gente, ficar em casa é roubada! Deprime! No dia seguinte, uma sexta-feira, trabalho o dia todo e trinta minutos antes de ir embora a Fernanda vai à minha sala e me diz “Lina, você não poderá continuar aqui pois a lei canadense permite apenas um mês de estágio não remunerado. Se eu te manter aqui posso ter problemas com o governo. Sinto muito por isso, mas eu não sabia desse detalhe”. Oh gente… eu fiquei branca! Quero dizer, mais branca do que já sou! E respondi “Como é que é? Quer dizer que depois de termos combinado tudo o que eu ia realizar, todos os contatos que eu já fiz em nome do LaSalle, eu não poderei voltar na segunda-feira?”. É… na segunda-feira eu não ia precisar acordar cedo para trabalhar e isso me deu uma angústia tremenda.

Passaram-se em torno de seis semanas e a Fernanda me liga “Lina! Você não vai acreditar! O CEO do LaSalle me contatou e ele quer te contratar!”. É claro que fiquei muito feliz com a notícia e disse que adoraria conversar com ele a respeito. Só que tinha um detalhe: eu já estava empregada em outra empresa! Eu sempre estou aberta para discutir sobre novas oportunidades profissionais mas, desta vez, eu tinha poder para negociar pois não precisava do emprego no LaSalle. Aliás, esse é um tema que, como coach profissional, falarei em breve com vocês: integração no mercado de trabalho canadense e realização profissional.

Acabei não aceitando a oferta de emprego mas, hoje, o LaSalle é um parceiro do linadonnard.com, sendo um dos colleges que represento. E sabe o melhor? Quando contatei o CEO pelo LinkedIn, depois de cinco anos, ele lembrou de mim na hora e disse “Lina, será um prazer te ter como uma de nossas representantes!”

E o que fica de ensinamento desse episódio que vivi?

  • Temos que ser humildes! Se você pensa em imigrar, saiba que você terá que dar alguns passos para atrás para, em seguida, dar vários para frente.Dificilmente você conseguirá um primeiro emprego no mesmo nível hierárquico e com o mesmo salário que você tinha no Brasil;
  • Trate à todos com respeito e reverência: a senhora peruana que me atendeu, à princípio, era apenas uma funcionária do governo. Só que não (#sqn)! Ela foi a porta para uma infinidade de pessoas e oportunidades maravilhosas que têm acontecido até hoje na minha vida! Por isso, não subestime ninguém;
  • Se você quer colher, plante em abundância: gente, isso é lei universal! Trabalhe, se esforce, seja um profissional competente e de confiança! Faça além do esperado e surpreenda sua equipe! Destaque-se com sua excelência e jamais se esquecerão de você;
  • Quando você receber uma notícia que entristecer seu coração, primeiro fique grato pelo o que você já tem na sua vida. Esse é o primeiro exercício. O segundo? Ligue para um amigo e saia para dançar e tomar um drink. Funciona que é uma beleza!

Beijos no coração e fica firme! #vemserfelizemmontreal

Lina Donnard é brasileira, de Belo Horizonte, imigrante e mora em Montreal desde 2009. É consultora em educação no Canadá e coach profissional para integração ao mercado de trabalho.